Leonid Afremov (1955, Belarus) |
“Que seja presença e companhia, o relacionamento bom: pois a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós.”
(Lya Luft. “Pensar é Transgredir”, Ed. Record, pág. 35)
Quarta-feira, 15h. Depois de
pensar muito, ponderar infinitamente todas as alternativas possíveis e me
boicotar como de costume, joguei para o lado a manta de patchwork colorida com
a qual cubro minhas pernas para me proteger do mundo, desliguei a TV e juntei do
chão as embalagens de chocolates belgas, comprados por uma bagatela e com muito
esforço no “mercado do negro”, um
amigo muambeiro que contrabandeia delicadezas importadas. Eu estava em meu
ninho. Esse era meu castelo secreto, meu mundo particular, o único lugar onde
eu poderia ser eu mesma e esquecer as convenções sociais. Em meu mundo particular
eu posso ser contraventora, receptadora, gorda, feia, não me depilar e não
tomar banho um fim de semana inteiro. Posso ser neurótica, cheia de manias,
desenvolver fluidamente meu transtorno obsessivo compulsivo, comer gordura
saturada e beber a quantidade de unidades alcoólicas que quiser, ouvindo um bolero
bem dor de cotovelo na voz rouca de Waleska ou dançando estranhamente um folk ucraniano. Meu castelo é meu lugar
no mundo. Tenho minhas lembranças, minha música, minha máquina de escrever,
meus livros. E mesmo assim algo sempre falta. Será que nunca terei um mundo
perfeito? Que maldição é essa de desejar infinita e indefinidamente tudo aquilo
que não tenho até conquistar e automaticamente eleger outro objeto obscuro de
desejo?
Como sempre me falta algo, fui em
busca de saciar minha sede de viver. Levantei-me e fui vestir a roupa camuflada
de minha personagem. Escolhi com cuidado algo que desse aquela levantadinha no
busto irremediavelmente flácido e na bunda cada dia mais precária e que não
mostrasse minha barriga protuberante, resultado de madrugadas inteiras
beliscando guloseimas e chorando com filmes românticos dos anos 50. Passei pelo
insuportavelmente doloroso processo de depilação sem nenhuma glória. Quem
inventou que precisamos de depilação devia nos odiar profundamente. Misoginia! Mesmo
ficando com as virilhas cheias vergões de tão irritadas e as canelas cravejadas
de pontos vermelhos, não tinha condições de bancar a feminista peluda
revolucionária das Barricadas de Paris de 1968 porque corria o risco de causar
a pior das impressões. Então, respirei fundo me joguei no “Dia de Mulherzinha”.
Tomei um banho demorado, cuidando
para passar a esponja em todos os recônditos que nunca toco ou sequer lembro
que existem. Para que lembrar dessas coisas? Até descobri que tenho um sinal
bonitinho que nem sei se é de nascença ou não. Uma manchinha caramelo em
formato que lembra um coração, ou uma pera, ou uma coxinha de frango, ou nada
disso. Aquele banho incomummente demorado foi um carinho do tipo que há tempos
eu não recebia. Tive vontade de permanecer indefinidamente sob o chuveiro morno
massageando meus ombros e ficar acariciando-me delicadamente com a esponja.
Como posso viver tantos anos neste corpo que não conheço? Como posso não
visitar-me para me fazer feliz? Tive vontade de se generosa comigo, vestir o
pijama novamente, sentar em minha poltrona de leitura e votar a ler Jane Austen
depois de mais de vinte anos. Mas não, não podia, eu tinha um compromisso ao
qual não poderia faltar, custasse o que custasse. Simone de Beauvoir, protegei-me!
Depois de me besuntar de creme
hidratante canforado para diminuir a irritação da pele, vesti meu roupão e fiquei
um tempo vendo uma pilha de roupas sobre a cama. Bancaria a donzela vitoriana,
pura e casta, com uma blusinha branca de rendas e brocados? A femme fatale, agressiva e independente,
com um vestido rubro e salto alto de vinil? A urbanóide descolada de jeans estonado,
T-Shirt monocromática, lenço
palestino no pescoço e óculos de grau? Ou sairia na rua sendo eu mesma, de cara
limpa, “cabelos brancos de melancólica
Rapunzel”1, como diria Lya Luft, castamente presos num coque e
nenhuma graça no olhar? Bullshit! Decidi
ir de cara limpa, sendo eu mesma. Não, não era uma boa alternativa ser eu
mesma. Tá difícil ser eu sem reclamar de
tudo2. E cadê meu
estojo de maquiagens? Não sabia nem como segurar um pincel. Será que dava tempo
de achar algum tutorial na internet ensinando o passo a passo do truque para
ser outra?
Maldita hora que passei meu
número de telefone a um ilustre desconhecido que me abordou em público. Na
verdade eu só queria contrariar todas as estatísticas e superstições que dizem
que não seria na fila do supermercado, numa tarde chuvosa de sábado, quando eu
estava com o pior moletom, a pior cara e o pior humor, que aconteceria algo
como “uma possibilidade”. Além disso,
porque essa abordagem mexeu com minha vaidade. E admito que depois de tanto
tempo sozinha, pensar que poderia ter um encontro me soou atraente. Agora,
porém, amargo a séria possibilidade de ver o processo de rejeição longo e
doloroso do passado se repetir mais uma vez.
Quando recebi a ligação,
inesperadamente, no domingo após o encontro casual no supermercado, fui
invadida por uma breve alegria. Que bonitinho ele me ligar, pensei. Logo depois
bateu o pavor. O que ele vai pensar de mim se eu aceitar? O que ele vai pensar
de mim se eu não aceitar? Mas se ele ligou é porque deve estar pensando que eu
sou fácil, e eu sou mesmo. Se eu não aceitar, ele vai pensar que eu sou fácil e
me faço de difícil, o que também seria verdade, porque eu estaria fazendo
gênero. Não estou em condições emocionais de dizer não a um encontro que nem
precisei batalhar muito para conseguir. Não que eu batalhe por encontros
normalmente. E não que me venham facilmente, por outro lado. Encontros simplesmente
não acontecem comigo. Fáceis ou difíceis, eu nunca estou muito disposta, mesmo
que esteja eternamente disponível.
Enquanto me vestia
ritualisticamente pensava no ritual do encontro. Eu já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada3.
Eu chegaria, sentaria, esperaria. Ou ele chegaria, sentaria, esperaria. No
primeiro caso eu estaria com a cara de tédio que me é peculiar em casos de
esperas ásperas. No segundo caso, chegaria ofegante, escabelada e com o rosto
suado, falando sem parar e me desculpando histericamente por ter me atrasado.
Não sei o que causaria a pior impressão. Eu sempre acho que estou causando a
pior das impressões. Mas tudo bem, era melhor não estar suando como um operário
de senegalês de minas de carvão. Por isso apurei o passo para terminar logo de
vestir meu paramento e, bélica, ir para o local marcado.
Aceitei o convite e escolhi o dia
e o local onde nos encontraríamos. Queria um local público, neutro e que não me
tirasse de minha zona de conforto. Que outro lugar poderia ser? Claro que foi
em uma confeitaria. Só açúcar e café forte me reconfortariam e me acalmariam,
já que eu não podia fumar mais em locais fechados, e mesmo que pudesse não o
faria para não causar uma impressão ainda mais negativa. Aliás, odeio essas
campanhas antitabagistas. Não porque sou fumante, mas porque sou livre. Tenho o
direito de escolher o que fazer da minha própria vida e se escolher morrer um
pouco a cada tragada, a escolha é minha. Suicídio é um ato de liberdade. Mas
querem que sejamos boas moças, puras e castas vitorianas. Fucking’s health moralists!
Cheguei e procurei uma mesa de
canto, próxima a uma grande janela que dava a um parque com ipês
impressionantemente coloridos. Sentei-me de frente para o parque, pedi um
cappuccino grande, uma generosa fatia de cheese
cake e tentei me acalmar. Mas dei-me conta que estava de costas para a
entrada e assim não veria o rapaz do supermercado chegar. Espero que ele me
reconheça facilmente, pensei. Eu estava sem óculos e sem lentes de contato
naquele dia no supermercado e não vi direito o rosto dele. Também não faria
diferença, eu aceitaria de qualquer forma a abordagem, porque meu narcisismo
sempre me faz cometer esse tipo de loucura de dar abertura às pessoas só porque
elas olharam para mim. Ou talvez não seja meu narcisismo, mas minha profunda
baixa autoestima. Mas não queria pensar
nisso. Mudei de lugar e sentei de frente para a porta. Mas não era um bom
lugar. Eu pareceria muito desesperada e ansiosa, espreitando a entrada. Além
disso, a luz que vinha de fora era péssima para minha pele, porque mostrava
todas as manchas e rugas que eu já tinha tentado esconder com base líquida e pó
compacto. Sentei em outra mesa, onde a luz era mais fraca. Puxei uma cadeira
lateral, onde poderia ver a entrada e o parque colorido no fim da tarde e de onde
poderia fingir distração e tranquilidade vendo as pessoas praticarem esportes (que
me cansavam só de vê-los de longe), enquanto folhava uma revista de fofocas sem
lê-la. Finalmente o lugar escolhido estava bom. Ajeitei o cabelo atrás da
orelha, alinhei a coluna e joguei os ombros para trás (ando arqueada como uma
camponesa eslovena sexagenária), cruzei as
pernas, meio sexy, mas contida. Posicionei o café na diagonal à minha esquerda,
a fatia de torta na diagonal à minha direita, a revista bem à minha frente,
acima dela o açucareiro, o adoçante, os guardanapos e a placa com o número da
mesa, milimetricamente alinhados.
Dezesseis era o número da mesa. A
soma dava sete. Sete é o número da perfeição, dizem. Eu nasci no dia dezesseis,
que é o número da mesa, e cuja soma com mês e ano de nascimento também dá sete.
A soma dos quatro últimos números do telefone do rapaz do supermercado dá
trinta e quatro, portanto, sete. Moro num prédio cujo número é 2500, que também
dá sete. Serão sinais? Tenho que parar com essas paranoias obsessivas com
numerologia. Isso já me rendeu sete anos de azar, catorze anos de análise e
sete meses numa clínica para dependentes químicos.
16h27min. Ele estava atrasado. E
novamente a soma dos números dava sete, mierda!
Eu acho que ele não vem, ele não vem não,
ou será que virá?4 Eu já havia bebido o cappuccino, já havia
folhado duas mil setecentas e vinte e cinco vezes a mesma revista, tamborilava
na mesa as unhas recém-pintadas de rosa bem clarinho. Já tinha perdido a pose e segurava o queixo
com a outra mão, com a coluna virada num “U”, olhando para o nada no parque lá
longe e os pés cruzados sob a cadeira, prova que estava louca para sair
correndo dali. Então, ele entrou. Abriu um sorriso franco e me desarmou.
Estendi a mão, polida e pudica, e ele inclinou-se para beijar-me. Sua barba
roçou levemente o lóbulo da minha orelha e tive um arrepio. Oh, Deus, pensei,
te segura. Talvez ele tenha pedido desculpas pelo atraso, mas eu estava tão
desconcertada com a barba dele roçando em mim e com aquele sorriso branco no
meio daqueles pelos negros que fiquei surda por alguns momentos.
Ele não é um homem bonito. Seus olhos
são juntos demais, sobrancelhas negras bem marcadas, nariz adunco, pele meio
macerada, cabelos finos, desgrenhados e ressecados. As mãos são bonitas, fortes
e com juntas salientes. Ele é alto, magro, meio desengonçado. Pareceu-me ser
até meio manco, mas talvez fosse constrangimento de atravessar o longo salão
sendo observado detidamente por mim, sentada na mesa do fundo. Acho que ele
chegou a pensar que eu olharia para ele quando chegasse à beira da mesa e
diria: “Certo, vire-se. Ok, sente-se.” Confesso
que pensei em fazer isso, lançando um olhar analítico-megera, meio Anna Wintour, mordendo a ponta dos
óculos, erguendo uma das sobrancelhas e acariciando o queixo. Obviamente não
fiz, embora tenha realmente realizado uma avaliação preliminar do rapaz, da
mesma forma que certamente fui analisada - rogo que positivamente.
Conversamos longamente e nem percebemos
a hora passar. Ele contou-me sobre suas andanças pelo mundo, seu cotidiano,
família, amigos, gostos diversos. Chegou a fazer certa autopromoção, supervalorizando
seus feitos mais simples, mas tentei exercitar minha condescendência em
primeiros encontros. Ele é tímido, comedido, mas bem articulado. Parecia que
estávamos compassados, cumprindo a dança da conquista, respondendo mutuamente ao
questionário básico da entrevista para ocupar a vaga disponível. Tentei falar
brandamente o que penso, sem me mostrar muito e sem me boicotar. Sempre falo
bobagens quando estou tensa e primeiros encontros são polos de tensão. Acho que
por isso que não tenho segundos encontros. Ponto para mim. Comportei-me
perfeitamente, acho. Sem piadas de humor negro, politicamente incorretas,
preconceituosas e principalmente autodestrutivas.
Entardeceu, o sol se pôs, a confeitaria
fechou. Quando olhamos para o lado, todas as mesas estavam vazias e as cadeiras
começavam a ser empilhadas sobre elas para que a limpeza do salão começasse.
Levantamos e nos dirigimos à porta. Momento constrangedor. Eu não sabia o que
dizer, o que sugerir, nem sei se queria fazer algo depois. Um café no fim da
tarde nem é propriamente um encontro. É um café no fim da tarde. Encontro seria
se ele me levasse para jantar a luz de velas em um restaurante francês ou se
fizéssemos um passeio em algum parque no domingo, com direito a piquenique com
vinho e frutas. Mas era apenas um café. No fim da tarde. E eu estava preparada
para a constrangedora despedida na beira da calçada. Eu vou para um lado e ele
diz que tem que ir para outro, mesmo que fosse para o mesmo lado, só para não
me acompanhar. Eu estava acostumada e havia me tornado expert em me desvencilhar de despedidas constrangedoras no fim de
encontros desastrosos.
E foi o que aconteceu. Meio desajeitados
- ele muito mais que eu – nos despedimos próximos ao meio-fio. Deixei cair no
chão os óculos de grau quando tentava colocá-los na bolsa. Gentilmente ele
curvou-se para juntá-los. Cena clássica: eu também me curvei e dei-lhe um
encontrão fazendo com que derrubasse o livro que estava lendo. Fausto, de
Goethe. Comentei que meu gato chama-se Fausto em homenagem à Goethe. Que queria
chamá-lo de Mefistófeles, mas ele tem mais cara de Fausto mesmo. Ele riu. Não
sei se foi positivo ou negativo o riso. Hesitei. Senti-me ridícula. Ele deve
ter pensado que nunca li nada de Goethe. Para evitar prolongar o momento
constrangedor, tratei de estender a mão para despedir-me com um sorriso amarelo
e um “até mais, então”. Ele pareceu
surpreso com minha reação. Despediu-se e perguntou se poderia ligar “um dia desses” para marcarmos um jantar.
Sei, um dia desses é nunca mais,
ainda pensei na hora. Vontade de dizer: “Ok,
sem prêmios de consolação. I will survive.” Mesmo assim disse a ele que sim,
que ele poderia ligar quando quisesse, e poderíamos combinar uma noite em que
eu estivesse livre e que meu único dependente é Fausto e que ele é mais
independente que eu. Ele insistiu perguntando se poderia ligar QUANDO quisesse.
Franzi a testa, meio esquiva, e novamente disse que sim, que poderia ligar.
Como eu já esperava, ele foi para
um lado e eu para outro. Mas fui eu quem perguntou para que lado ele seguiria.
Coincidentemente ele ia para o lado que eu deveria ir e, sendo assim, a regra
mandava que eu dissesse obrigatoriamente que ia para o lado oposto ao da minha
casa. Dobrei a esquina e uma chuva fina chegou para lavar minha alma de mais um
encontro frustrado. Minhas sapatilhas vermelhas de pano ficaram pontilhadas de
chuva e contra o calçamento cinzento do passeio formavam uma composição bonita,
meio melancólica, como eu estava. Apurei o passo me protegendo sob as
marquises. Parei numa esquina para atravessar a rua e ouvi o celular tocando
dentro da bolsa. Remexi seu interior procurando-o. Eu nunca conseguia
encontrá-lo a tempo de atender da primeira vez. Quando o encontrei a ligação já
havia sido encerrada. Guardei-o sem ver quem ligou. Pouca coisa me interessava
àquela hora. O telefone tocou novamente. Eu estava no meio da travessia da rua
e atendi às pressas.
- Alô? Oi? Sou eu...
- Oi...É...Tudo...Tudo bem? Que surpresa...
- Você disse que eu poderia ligar QUANDO quisesse,
então liguei.
- Pois é...Rápido, né?
- É...Se você estiver ocupada tudo bem...
- Não, não...Estou somente mexendo no rabo e fazendo
um castelo de areia. Mas com essa chuva acho que vou pegar meu cubo mágico da
bolsa...
- O quê?
- Nada não, nada não...Então...Fala aí...
- Eu liguei porque você disse que eu podia ligar
quando quisesse para convidá-la para jantar. Pensei que um encontro só é de verdade quando é um jantar ou algo assim
tipo um piquenique no parque com direito a vinho e frutas. Mas com essa
chuva...Café no fim da tarde não é um encontro e não dá para fazer um
piquenique agora. É...O que quero dizer é...quero saber se você está ocupada
para o jantar hoje, agora. E quero saber se Fausto sobreviverá mais alguma
horas sem você?
- Não...Quer dizer, sim...Sim e não. Eu estou livre
para o jantar, sim. E não, não estou ocupada. E fausto sobreviverá melhor sem
mim que comigo. Onde te encontro?
- Vire-se e olhe atrás de você.
Eu virei. Uma mão segurando a
bolsa, a outra puxando a barra molhada da calça e o celular preso entre a
orelha e o ombro. No movimento brusco de virar-me derrubei o celular, que se
partiu em três partes numa poça d’água.
Sorrimos, nos ajoelhamos e juntamos os pedaços do aparelho. Peguei o exemplar
de Fausto que ele carregava e coloquei-o na bolsa para não molhar ainda mais.
Continuamos nos esgueirando da chuva sem rumo certo. Vez ou outra ele me
abraçava para me proteger e me puxava contra si para evitar que eu pisasse em
alguma poça.
Naquela noite eu tirei a barriga
da miséria.
Imagem gentilmente cedida por Leonardo Cassimiro. Arquivo pessoal.
___________________
1 Pensar é Transgredir. Lya Luft,
pág. 30.
2 “Nuvem Negra”, Gal Costa.
3 “Retrato em Branco e Preto”,
Chico Buarque.
4 “Tudo Pode Mudar”, Metrô.