Mesmo tendo certa resistência a determinados tipos de produções cinematográficas, me propus a assistir (em meu ritmo biológico peculiar) a todos os filmes concorrentes, pelo menos nas principais categorias, e aos vencedores do Oscar 2013. Já havia comentado sobre Amour, de Michael Haneke. Agora é a vez de registrar algumas impressões sobre o incipiente “oscarizado” O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook), dirigido por David O. Russell, o mesmo de O Vencedor. As virtudes do filme são confirmadas pela quantidade de indicações ao Oscar, o que mostra que a obra está afinada com o objetivo do Academy Awards. Ou então que o Prêmio da Academia está afinado com a finalidade comercial do filme, demonstrando a coerência de um prêmio cujo objetivo é reconhecer e celebrar a indústria cinematográfica americana. Foram oito indicações, incluindo melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor ator (Bradley Cooper), melhor ator coadjuvante (Robert De Niro) e melhor atriz (Jennifer Lawrence).
Pelo elenco e pelo roteiro já é possível medir a febre da produção. Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) é um homem que entra em crise, perde o emprego e um casamento fracassado e é internado em um manicômio judiciário. Por decisão da mãe (Jacki Weaver) é levado para casa dos pais para continuar o tratamento, em liberdade condicional. Ele retorna obcecado por reconstruir a vida que ele mesmo pôs a perder. No processo de reinserção na vida “normal”, ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher também desajustada que provoca mudanças em seus planos futuros. Com esse enredo já tive certa preguiça e já previ o que aconteceria. Não me enganei. Impossível não fazer spoiler logo na segunda frase da sinopse ou já no título do filme no Brasil, não mais infeliz apenas que o título em Portugal (“Guia Para um Final Feliz”).
Embora Jennifer Lawrence, vencedora do Oscar, do Globo de Ouro e do SAG Award de Melhor Atriz, esteja realmente boa no filme - e sua atuação o salve em alguns momentos mais enfadonhos - ele não passa de um americanóide previsível. Apesar de todo mérito da moça - e de Robert De Niro, justiça seja feita - ainda acho uma injustiça ela vencer a espetacular e densa atuação de Emmanuelle Riva em Amour. Quando penso nessas injustiças da Academia, lembro que o prêmio não é para os melhores do ano, é para os melhores do ano nos Estados Unidos. Então meu coração se acalma.
Minha sorte é que era um dia qualquer de meio de semana, num fim de tarde com pouco ou quase nada para fazer. Entre um papo relativamente descontraído (e muito inusitado) em uma cafeteria e uma passada de olhos no jornal do dia vi que o filme começaria em quinze minutos. Não hesitei e me joguei na sessão. E se a proposta era um passatempo qualquer sem pretensão alguma, o filme se prestou perfeitamente.
O lado bom do filme é ser bem feito, bem amarrado e sintonizado ao que se propõe. Ele diz a que veio e cumpre satisfatoriamente. Resumidamente, ninguém se lembrará dele daqui a seis meses, mas é um filme honesto. É “levinho”, “divertidinho”, “bonitinho”. É um filme "inho". Mas confesso agora: em alguns momentos torci para que acontecesse o que aconteceu no desenrolar da trama. Adoro clichês, inclusive na vida real. Pena que do lado de cá da tela, nem sempre os finais são felizes. Por isso nos refugiamos da vida real nessas salas escuras, nem sempre confortáveis.
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