"Porque Esqueceste o Que Vieste Fazer" (Pintura com Café) - Alexander P. Moreira, 2009.
"Tenho meus vícios
Vivem dentro de mim esses bichos
São o pai e a mãe dos meus lixos
E às vezes me levam de mal a pior
Pergunto quem
Não sabe disso
Os momentos em que a vida não tem dó"
("Maiúsculo" - Sérgio Sampaio)
Quando eu era mais jovem (nem tão mais jovem assim) fomentava mais desejos e sonhos. Queria a vida dos sonhos, a casa dos sonhos, o emprego dos sonhos. Acreditava em paixões avassaladoras, em amores de cinema, românticos e vitorianos. Ainda acredito, lá no fundo. Acho bonitos os amores de folhetim. Via as pessoas relatarem histórias lindas que venceram barreiras de espaço e tempo e pensava: Será que um dia isso acontecerá comigo? Claro que não acontece! A vida real não é assim. No fundo eu era um adolescente chato demais, sonhador demais, piegas e pedante demais. Como todo adolescente, queria tudo para agora, para ontem, era constituído de faltas e urgências. E sempre tive fascínio pelo arrebatamento sôfrego e febril das donzelas vitorianas, alvas e puras, envoltas em rendas brancas e imaculadas.
Depois de levar algumas rasteiras da vida, desenvolvi um certo medo desse sentimentos abruptos e inesperados que desestabilizam minhas parcas faculdades mentais. Talvez tenha me tornado um pouco covarde. Que seja. Mas o fato é que acabo me fechando numa concha quando me vejo caindo numa dessas grandes e rápidas ilusões românticas. E não, não tenho medo dos sentimentos das pessoas com quem me relaciono, que fique claro. Reconheço, valido e respeito. Tenho medo dos meus próprios. Porque sou um pouco, eufemisticamente dizendo, intenso. A ponto de consumir a mim e a tudo que me cerca. E consumir recursos disponíveis assim, em tempos de escassez como estes, pode ser perigoso. Gosto de sentir o terreno onde piso, avaliar, reavaliar e avaliar mais uma vez – ilusória(?) e neutoricamente(!) – cada passo dado. Para não ferir, para não ser ferido. Parcimônia e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
Quando encontro pessoas intensas e sedentas por viver uma vida em um dia, lembro daquele menino que deixei trancado no sótão para (tentar) ser um homem equilibrado, centrado e ponderado. E tento visitar o quarto onde o menino ficou de castigo. Mas não acho mais a chave. E encostando o ouvido na porta, não ouço barulho algum. Talvez ele tenha cansado de ficar trancado lá e tenha adormecido para sempre ou fugido pela janela.
De fato, atualmente não creio mais em paixões relâmpago. Não acredito nem em café instantâneo, quanto mais em amor instantâneo. Amores também tem o tempo de maturação, colheita, torragem, moagem e preparo com água em quantidade e temperatura certas. Daí sim, a gente bebe. Sem açúcar, para ser mais autêntico e para o sabor durar mais tempo na boca, mesmo sendo meio amargo. Ou talvez, autêntico seja dizer que nada disso é verdade e que sempre quis subir no meu cavalo branco, me jogar numa cruzada urgente para salvar a donzela da masmorra, seja ela quem for, viver num mundo só meu, criado por mim. Ser como Amélie, a heroína do filme que citei, acreditar nos sonhos e realizá-los. Imediatamente, agora, neste breve tempo de ler o que acabei de escrever. Pronto. Aconteceu. Quem sabe?
Nós buscamos cheios de esperanças
ResponderExcluiro caminho que os sonhos
prometeram às nossas ânsias.
Sabemos que a luta
é cruel e é muita
mas sofremos e sangramos
pela fé que nos obstina...
Se eu pudesse, tatuava este teu texto todinho em mim. Só pra me olhar no espelho e pra não perder a esperança de que tudo o que está escrito aqui é de verdade e fala por mim! Lindo isso, Luc. Assim como lindo é o teu sonho.
ResponderExcluirElen,