Agora, falando sério e dando um chute no lirismo, por que as pessoas tem tanto medo de se envolver? Por que fogem de compromissos? Por que se escondem daquilo que mais buscam? Por que temem tanto ter intimidade? Conversava com uma amiga sobre esses questionamentos meio neuróticos. Ela contava que passava por mais uma desilusão amorosa – tema que conheço bem - onde estava aberta para um relacionamento, mesmo que a distância, mas a pessoa com quem havia se envolvido não estava disponível ou disposta. Isso me fez pensar na minha própria vida, nas minhas (in)capacidades e nos meus (des)encontros.
Gosto de me relacionar com as pessoas, amando noites afora, fazendo a cama sobre os jornais. Sou casadoiro, até o amor cair doente, nunca neguei. Acredito que, dentro das minhas possibilidades, me permito me envolver, mesmo que seja por um único dia. E relacionamentos de um dia tem sido cada vez mais comuns, mesmo eu querendo que exista um dia seguinte e embora não me satisfaça com qualquer amor, qualquer calor, qualquer favor, qualquer verão. Gosto dessa fase de conhecer alguém, sem me afobar porque nada é pra já, dando tempo ao tempo, mesmo achando que às vezes as coisas demoram tempo demais para acontecer. Gosto até da insegurança, do frio na barriga, de quando parece que estamos pisando num campo minado (e às vezes estamos mesmo), que passos em falso podem ser fatais, mesmo que não sejam, quando qualquer desatenção pode ser a gota d’água. Parece que todos os sentimentos estão à flor da pele e tudo parece ter uma dimensão muito maior. Acho que pode ter mesmo, principalmente em mentes, eufemisticamente, instáveis e inquietas como a minha.
Já devo ter reclamado disso em outras oportunidades, aqui mesmo, ou num boteco qualquer, depois de ter enchido a cara, porque de tenho esses momentos de choramingar minhas misérias por aí. E meus queridos que agüentem. Porque tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Mas o que sinto é que as pessoas estão se tornando cada vez mais intolerantes e imediatistas. Ninguém está disposto a ceder. Parece que tudo pode ser perda de tempo. Ou então, parece que a vida anda tão rápido que qualquer coisa é motivo para descarte e exclusão instantâneos. Reflexos de uma cultura fast-food? Efeitos da globalização dos mercados? Pode ser. Talvez seja porque vivamos tempos de liberdades extremas. Existe muita oferta. Toda sorte de tipos pululam por aí. O que a dinâmica desse mercado possibilita é que possamos ser – supostamente – livres e possamos escolher com mais facilidade e fluidez, ao ponto de descartarmos o que não atende às necessidades imediatas sem o menor remorso. A fila anda cada vez mais rápido e roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião.
Será que foi isso que nossos pais sonharam para nós em seus anos dourados? Será que foi por isso que eles lutaram nos anos 60? Os meus acho que não queriam isso. Sem falso moralismo. Estou longe de ser moralista (acho). Meus pais são meu grande referencial de relacionamento. Porque vivem uma relação com dificuldades, como todos, mas tem algo que acho fundamental: eles são livres para tentar, todos os dias, fazer a relação que tem dar certo. Eles cedem quando é necessário, dialogam, avançam e retrocedem, discutem quando é inevitável. Porém, eles querem as mesmas coisas, partilhadas, batalhadas, suadas, mas de mãos dadas. E não é só para rimar. Sinto admiração por pessoas que constroem uma vida como eles fazem. Não é inveja, que fique claro, é um sentimento de querer que aconteça comigo também.
Vez em quando encontro pessoas super intensas, viscerais, pulsantes. Mas completamente efêmeras. Sinto-me enganado, confesso. Num dia o que sentem vence tudo, podem tudo, mostram um mundo vasto. No dia seguinte, ao menor sinal de contrariedade, não deixam nem uma almofada para eu sentar na casa que abandonaram sorrateiramente na madrugada. E nesses momentos se encaixa perfeitamente aquele exemplo infantil do menino gorducho e corado fazendo beiço e esbravejando “ou joga meu jogo ou levo a bola embora!”.
Admito que me peguei, em algumas situações, agindo assim, como se tivesse uma pedra no meu peito, mudando de calçada quando aparecia uma flor e dando risada do grande amor. Não é justificativa, mas fui condicionado pelo meio. A explicação é meio cafajeste, mas foi a única viável neste momento. Pardon.
Sinceramente, o que acho que falta hoje com as nossas crianças é um sentimento de carinho pelo que possuem. Isso é diferente de apego. Falo de cuidar daquilo que foi conquistado. Ninguém pensa em consertar o brinquedo que estragou. Quebrou? Troca por outro. Tem sempre um modelo mais novo e mais moderno na prateleira. Nossas crianças crescem e se relacionam com as pessoas da mesma forma. E quando adultos, agem com as pessoas como agiam com seus Playmobil: A relação tá ruim e não funciona mais tão bem? Troca por outra.
Certo, talvez eu esteja apenas fazendo um desabafo despropositado, enquanto minha taça de vinho está aqui, quase vazia novamente. Mas antes de enchê-la mais uma vez e trocar a música para um sambinha bem alegrinho do Chico Buarque, queria lhe dizer que a coisa aqui tá preta e lhe fazer uma proposta. Se você chegou até este ponto do texto é porque talvez pense como eu. E se for assim, façamos um trato: não vamos nos render às demandas desse mercado selvagem. Vamos formar um foco de resistência contra esse grupo que quer nos “coisificar”. Senhor, senhora ou senhorio, Felino, não reconhecerás! Porque já nascemos livres e não somos Playmobil na caixa de brinquedos!
Eu faço minhas as tuas palavras, EU QUERO VIVER UM GRANDE AMOR ou no mínimo uma relação onde exista um amanhã!! PERFEITO LUC, bjs
ResponderExcluirFaltam Vinicius de Moraes pra nossa vida!
ResponderExcluirAbraços, Lu!
Filho, cada dia tu nos surpreende positivamente, não somente por ter efetuados algumas manifestações a nós relacionadas, mas principalmente, pela facilidade que tens de expressar teus sentimentos de uma forma simples, coerente e sincera. Te parabenizamos e agradecemos.
ResponderExcluirUm beijo grandão da tua VÉIA e do teu VÉIO.