Nunca canso de dizer: uma boa xícara de café preto e bem forte é uma das melhores coisas do mundo! Café estimula, acalma, acompanha. Quando estou sozinho, uma caneca de café (porque sou super pão-com-ovo e mega exagerado, não sei tomar cafezinho) senta ao meu lado na frente do computador ou num canto qualquer onde esteja. Passei tardes inteiras de solidão – sozinho ou dois – com um uma xícara em riste. O aroma, o calor e o sabor me abraçam. Eu bebo café com a urgência e veemência de quem ama pela primeira vez. Café é uma religião para mim. Bebo quando saio da cama, porque não acordo antes de beber café (às vezes nem depois, mesmo quando saí da cama), após as refeições, para comemorar, para afogar as mágoas, para distrair, como um ritual de aproximação de outra pessoa ou para me manter afastado de todos. Café faz parte do meu ritual de fuga da dor. Cerco-me de coisas que me confortam, incluindo, além de café, pantufas e mantas, canções, poesias, incensos e chocolates.
Uma piada interna entre alguns de meus amigos é que costumava, quando eu ainda tinha algum traquejo para isso, “laçar” minhas conquistas amorosas com café preto e Billie Holiday. Quando sabiam que eu tinha algum encontro (e muitas vezes teve torcida organizada) no dia seguinte o código que indicava a vitória da conquista brotava, como um troféu, entre um sorriso satisfeito: “Rolou café e Billie Holiday!”. Café é um bom subterfúgio para distrair o nervosismo das mãos quando a insegurança e a falta de jeito criam barreiras para tocar com os dedos o que com os olhos, poros e pensamentos já vasculhamos intensamente. E Billie Holiday, para completara cena, preencheu, com aquela voz levemente melancólica e aqueles solos de sax arrastados, os espaços vazios de assunto. Às vezes funcionava. Em outras evidentemente não. Sempre tinha quem não bebia café ou não ouvia jazz. Ou ambos. Com criatividade encontrava, de vez enquando, um plano “B”.
Costumo sentar em alguma cafeteria qualquer para escrever, para ler, para pensar na vida. Um gole de café magicamente me traz à tona e me faz ver o mundo melhor. Como se pudesse ficar mais alto e ver tudo mais de cima - outro sonho impossível de realizar que fomentarei em vão ao longo da vida, aqui, do alto dos meus eternos “um-metro-e-sessenta-e-bem-poucos”.
Durante um longo período tomei meu sagrado expresso de depois do almoço na mesma cafeteria do centro, acompanhado de uma fidelíssima e amadíssima alma-irmã. Não sei o que será do futuro. Em outros pagos, logo logo, meus dopo pranzo serão mais tristes. Um pedaço da minha alma fica, mas o gosto daqueles cafés lúdicos e líricos vão me acompanhar por onde eu for.
Ainda hoje, nada me importava mais do que um café...bem diferente de outros dias em que só queria água.....aquela água da fonte...cristalina...pura...então bebi um café...assim, ao acordar....encontrando o acompanhamento perfeito nesta sua linda crônica. Viva o café ! Viva nossos espelhos !
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