segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

NO DIA EM QUE EU VIM-ME EMBORA


Também não teve nada demais. Cheguei de mala (que não era de couro forrada com um pano forte brim cáqui), sem cuia, o peito cheio de ansiedade. Noite alta, rua escura, coração meio apertado. Os barulhos de dentro abafando os silêncios de fora. O som seco da mala arrastada pelas pedras gastas de tão antigas. O som rascante do coração pulsando no peito.

Pensei comigo: nada de grande acontecerá. Nem aconteceria. Afinal, era somente mais um no bando chegando ou saindo. O caminho de milhares agora sendo trilhado por mim. Tudo bem, em sentido oposto. Sou às avessas. Todos saindo e eu chegando. Mas é a vida. Sem glamour. Talvez não sem dor. Isso também já estava sendo esperado.

Podia até ser cena de filme. Filme de segunda, meio noir. Mocinho chega, jeans apertado, Ray-ban, jaqueta de couro. Desce do ônibus com sua bota tilintando, cigarro entre os lábios ressecados. A fumaça dançando até o céu. A câmera fecha nos pés e sobe lentamente pelo corpo até fechar nos olhos negros e levemente marejados sob os óculos escuros. Somente o som do vento, a poeira na estrada e a solidão. Ninguém esperando na plataforma, sem comitiva de boas vindas. Não, também não foi assim. Foi mais real, verdadeiro e lírico. E bonito. Talvez precisasse ir para longe encontrar o que está mais dentro. E fui o mais longe que pude para ir o mais dentro que consegui.

Serão dias sem muito sol, sem muito calor, bem sei. Porém, talvez sejam os dias mais verdadeiros que já tive. No fim das contas, isso me enche de alegrias e esperanças. Como diria o bom e velho Caio: “Que seja doce”.

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