Eu já ouvi repetidas vezes: “Mas vai ser difícil! Não vai ser fácil mesmo...”. Que disparate! Desistimos antes de começar. Sempre esperamos que as coisas sejam fáceis e existam na hora certa, no momento previsto, conforme o planejado. E de preferência com plano de execução e projeto prévio, protocolado e carimbado no universo para não restar dúvidas que a carta de navegação funcionará impecavelmente. Esquecemos que a vida é o devir, é o imprevisto, o inesperado, a hora não marcada, o momento errado.
O que nos torna humanos, e o que nos torna humanos melhores, é nossa capacidade de nos reinventarmos, de superarmos as adversidades. Parece papinho de auto-ajuda. Ta bom, não é sem dor, lembro os sofredores de plantão. Viver é sofrer também. Mas nada de fatalismo. Nascer é sofrimento, morrer é sofrimento. Só que no meio disso existem coisas bonitas. Não sou um deus por dizer isso. Quem vive sabe bem o que digo. Alerto: viver é mais que acordar todas as manhãs e olhar a cara inchada no espelho antes de urinar e tomar banho, é mais que comer nos horários certos e trabalhar oito horas por dia mecanicamente. Viver é subverter a ordem, é olhar para o alto e querer voar. É conseguir voar sem sair do lugar. Viver é amar sem medidas, loucamente. Seja uma pessoa, uma idéia, um bar, uma rua, um livro, uma cama, uma ausência, um dia, um minuto, um gesto, um esquecimento.
Neuroticamente busco esse tal recheio do sanduíche de sofrimento que é viver. Muitas vezes esbarrei com pessoas e situações inacreditáveis. Em outras dei, não menos inacreditavelmente, com a cara na porta. Mas me reinvento a cada tropeço. Teimosia? Provavelmente. Penso sempre que é melhor o cansaço da derrota após o embate do que o cansaço pela fuga em disparada.
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