Tenho pensado muito, nesses últimos dias, no que uma das pessoas amigas que mais me conhece na vida me disse no fim de semana passado, entre umas cervejas, uns cigarros e uns petiscos, num boteco incerto de uma noite quente às vésperas do carnaval que tanto fugi. Não nos víamos a algum tempo e estávamos eufóricos com o reecontro. Coisas de amigos. Tínhamos várias urgências. De contar as novidades, de saber das novidades, de matar a saudade com foice, apagarmos ausências e diminuirmos distâncias. Conseguimos um pouco. O tempo que temos nunca é suficiente, mesmo que seja uma vida toda.
Entre um gole e outro, eu contava das minhas (des)ilusões, dos meus planos, das minhas impressões sobre a vida atual. Falava, principalmente, dos meus sonhos. Sou cético e tenho os pés no chão, que tenho consciência da realidade que me cerca, das possibilidades e impossibilidades, mas que sonho também. Ela disse que vivo com os pés no chão, mas tenho a cabeça nas nuvens. E faz sentido. Eu preciso sonhar, preciso das ilusões macias e conscientemente controladas para deixar a vida mais branda. Ser realista demais às vezes dói. É como caminhar com sapato sem palmilha. Eu preciso de palmilhas anatômicas, macias e resistentes para não sentir que o caminho pedregosos é tão áspero, para pensar que a caminhada é mais serena. Com essas palmilhas tiro o foco das pedras do caminho e consigo ver o que mais há em torno. Que é real também. E pode ser muito mais bonito. Por que temos que guardar esse sentimento cristão de penitência, de dor, de sofrimento? Por que temos que viver sofrendo? Sei, sofrer é parte do processo. Mas ser feliz também pode fazer.
Penso meio neuroticamente sobre essas realidades todas ou essas irrealidades que me cercam. Sempre tentei me afastar das ilusões e viver o mais próximo possível do real. Vejo que o limite entre eles é tão tênue. E tendo sempre a me boicotar, principalmente quando algo bom acontece. Me inclino a achar que se não for sofrido não é real, se não tiver um drama não sou eu. Tá bom, sou um drama boy. Mas estou tentando me lapidar.
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