quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

COM OS PÉS NO CHÃO E A CABEÇA NAS NUVENS

Tenho pensado muito, nesses últimos dias, no que uma das pessoas amigas que mais me conhece na vida me disse no fim de semana passado, entre umas cervejas, uns cigarros e uns petiscos, num boteco incerto de uma noite quente às vésperas do carnaval que tanto fugi. Não nos víamos a algum tempo e estávamos eufóricos com o reecontro. Coisas de amigos. Tínhamos várias urgências. De contar as novidades, de saber das novidades, de matar a saudade com foice, apagarmos ausências e diminuirmos distâncias. Conseguimos um pouco. O tempo que temos nunca é suficiente, mesmo que seja uma vida toda.

Entre um gole e outro, eu contava das minhas (des)ilusões, dos meus planos, das minhas impressões sobre a vida atual. Falava, principalmente, dos meus sonhos. Sou cético e tenho os pés no chão, que tenho consciência da realidade que me cerca, das possibilidades e impossibilidades, mas que sonho também. Ela disse que vivo com os pés no chão, mas tenho a cabeça nas nuvens. E faz sentido. Eu preciso sonhar, preciso das ilusões macias e conscientemente controladas para deixar a vida mais branda. Ser realista demais às vezes dói. É como caminhar com sapato sem palmilha. Eu preciso de palmilhas anatômicas, macias e resistentes para não sentir que o caminho pedregosos é tão áspero, para pensar que a caminhada é mais serena. Com essas palmilhas tiro o foco das pedras do caminho e consigo ver o que mais há em torno. Que é real também. E pode ser muito mais bonito. Por que temos que guardar esse sentimento cristão de penitência, de dor, de sofrimento? Por que temos que viver sofrendo? Sei, sofrer é parte do processo. Mas ser feliz também pode fazer.

Penso meio neuroticamente sobre essas realidades todas ou essas irrealidades que me cercam. Sempre tentei me afastar das ilusões e viver o mais próximo possível do real. Vejo que o limite entre eles é tão tênue. E tendo sempre a me boicotar, principalmente quando algo bom acontece. Me inclino a achar que se não for sofrido não é real, se não tiver um drama não sou eu. Tá bom, sou um drama boy. Mas estou tentando me lapidar.

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