segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

VIDA DE SOLTEIRO: SOZINHO SIM, SOLITÁRIO NÃO

Às vezez ouço o que pensam e sentem pessoas que, assim como eu, vivem sozinhas. Na maioria são lamentos ou queixas. Falta da família, do namorado, dos amigos, da cama, do travesseiro, do cachorro. Entendo perfeitamente porque sinto na pele essas ausências todas. Ficar longe das pessoas que amamos é mesmo difícil.

Tento ver que, pelo menos em mim, essa incompletude é constitutiva. Sempre me faltará um pedaço. Quando tenho a ilusão de estar completo fico meio dormente e a sensação de ser incompleto some. Acho que é até bem normal, porque sou um hedonista clássico. Lido bem com essa incompletude, na maior parte do tempo. Ou pelo menos repito isso constantemente, até me convencer de que realmente é assim. Nos fins de tarde cinzentos desta cidade de ruas largas e calçamento desgastado, quando o sol vai ficando morno em tons de laranja através das copas das inúmeras árvores, de vez enquando baqueio, gauche na vida que sou. A boa e velha melancholisch fin de siécle, finalista e fatalista.

Se sinto falta de ter com quem pensar em voz alta, substituo por papel e caneta. Se sinto falta de sentar num boteco, tomar um chopp e divagar sobre a vida (dos outros), divago sobre a minha própria com um café e um livro. Se sinto falta de ter com rir de piadas infames, substituo pelos seriados da Sony. Se sinto falta do carinho dos meus pais e de alguns poucos e bons amigos (estes sim insubstituíveis), tentamos diminuir distâncias com pontes tecnológicas virtuais. Unguentos hi-tech.

Viver só tem algumas vantagens e infinitas desvantagens também. Mobílio a casa e ninguém se mete na minha decoração, mas não tenho a quem pedir opinião ou balisar minhas insanidades decorativas; não preciso dividir meus momentos “alone”, mas não tenho com quem dividir minha solidão; escolho o lado da cama (e durmo em ambos), mas não tenho aquele aconchego de dormir de conchinha de madrugada; fico horas no supermercado lendo nas embalagens a composição de todos os produtos e levo para casa o que me der vontade, mas não tenho aqueles dramas deliciosos como escolher queijo mussarela ou ricota ou discutir o que vamos ter para o jantar; durmo a hora que quero e acordo a hora que bem entender, mas perco a disciplina; cozinho o que agrada ao meu paladar, mas não tenho ninguém para elogiar (sim, narcisista, sim, adoro que elogiem o que cozinho); assisto o filme que desejar e não tenho com quem comentar, no final ou durante, o que vi. Sem contar que o pacote de pipoca é sempre muito grande somente para mim.

Comida é algo complicado para quem vive sozinho. Dificilmente existem no mercado pacotes de coisas em quantidades menores. Adoro cozinhar, mas opto por fast food para evitar desperdícios. Gosto de receber amigos em casa e cozinhar para eles. Mas não tenho problemas em cozinhar somente para mim. Cozinha é uma terapia, o fogão é meu divã. Só que falta espaço no freezer para os potes com o que sobrou. Ou sobram pacotes com metade do conteúdo na geladeira. Amigos: dois dos itens de sobrevivência indispensáveis a quem vive sozinho (e cozinha em casa) são potes de plástico que vão ao freezer e ao microondas e sacos com fecho, substituídos, sem tanto glamour, por prendedores de varal. Viver sozinho é ter que guardar as sobras nos armários, na geladeira, no peito.

Presenciei dramas dignos das tragédias gregas de pessoas com quem cruzei pelas esquinas da vida. Certo, cada um tem uma forma de reagir às adversidades. Creio que eu tenha lá um jeito mais comedido de lidar com a solidão. Não sou tão comedido quando se trata da falta de um encanador, um eletrecista ou uma faxineira, porém. A falta deles sim dói...

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